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Pílulas amargas

ELIANA CALMON E OS BANDIDOS DE TOGA

Ela afirma que o combate à corrupção só se tornará efetivo quando chegar ao poder judiciário. Diz isso com a autoridade de uma desembargadora que foi ministra do Superior Tribunal de Justiça (o STJ) e corregedora do Conselho Nacional de Justiça (o CNJ). E ilustra com fatos: “nos últimos trinta anos a Odebrecht foi vencedora de todas ações que tramitaram no judiciário”.

A TARTARUGA E A LEBRE

Todo mundo sabe que além de cara e ineficaz a justiça brasileira é extremamente lenta. Anda a passos de tartaruga. Aí estão os processos da boate Kiss que tramitam há quase cinco anos. Ninguém foi preso. Já os processos da operação Rodin – que apurou desvios que atingiram 100 milhões de reais – se arrastaram por dez anos. Os condenados em primeira instância recorreram e aguardam novo julgamento em liberdade. Em certos momentos, porém, a tartaruga surpreende, acelera e vira uma lebre. É o caso da tramitação do recurso de Lula no julgamento em segunda instância no TRF da 4ª Região. Veio a jato, chegou em tempo recorde. O presidente da 4ª Região se apressou a garantir que será julgado em um ano, prazo necessário para tornar Lula inelegível.

POLITIZAÇÃO DOS PODERES DO ESTADO

Juíza do Distrito Federal proibiu que a mídia use o termo “helicoca” ao se referir ao helicóptero apreendido com 500 quilos de cocaína na fazenda do senador Perrella. Sua Excelência, a juíza, se preocupa em preservar a imagem do senador.

Depois de virar celebridade ao apresentar um ridículo power point surgem rumores que Deltan Dallagnol pretende se candidatar à Câmara Federal.

IMPUNIDADE

Temer foi salvo pela sua maioria na Câmara, obtida do jeito que a gente sabe. Já o Aécio e o Serra, sobre os quais há um amplo leque de provas de suas ilicitudes, circulam por aí, livres, leves, soltos. Esta impunidade desmoraliza o nosso Supremo.

DENÚNCIA GRAVE

O ex-ministro da Fazenda Antonio Paloci afirmou que o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (o STJ), Cesar Astor Rocha recebeu propina no valor de cinco milhões de reais para barrar a operação Castelo de Areia que investigava ilicitudes da Camargo Correia.

LIGAÇÕES PERIGOSAS

O ministro do Supremo Teori Zavascki morreu neste início de 2017, sete meses atrás, na queda de um helicóptero. As investigações sobre o sinistro estão protegidas pelo mais severo sigilo. Acidente ou atentado? O mais surpreendente é que ele viajava em companhia de uma outra vítima, o empresário Carlos Alberto Filgueiras, figura controvertida por suspeitas de envolvimento em negócios nebulosos. O pior é que depois se soube que Zavascki quando ministro do Superior Tribunal de Justiça (o STJ) participou do julgamento de várias ações de interesse do empresário. Filgueiras era um dos sócios da BTG Pactual, investigada na Lava Jato. No STJ Teori Zavaski participou no julgamento de ações da BTG.

QUEM SÃO ELES?

Na sua delação Joesley Batista (JBS) afirmou que dois magistrados receberam propina para favorecer negócios escusos de suas empresas. Até hoje a Polícia Federal, o Ministério Público ou os juízes da Lava Jato não revelaram seus nomes.

A DESTRUIÇÃO DO PAÍS

A quadrilha que ocupa o Planalto está destruindo o país. Liquidaram direitos históricos dos trabalhadores com a reforma trabalhista. Congelaram por vinte anos os gastos da área social o que significa menos saúde, menos educação e mais miséria. Diminuíram o salário mínimo, tentam aprovar uma criminosa reforma da previdência. Terminaram com a nossa nascente indústria naval, estão entregando o pré-sal e desmantelando a Petrobras. Acabaram com o programa nuclear, entregam nossas reservas florestais. Preparam a privatização da Eletrobras e da CEMIG, dos aeroportos e até, pasmem, da centenária Casa da Moeda. Quando o sentimento de brasilidade e de cidadania vai despertar e reagir? Esta é a indagação final do libelo de um jornalista do porte e da lucidez de um Luiz Nassif.

SÉRGIO MORO PODERÁ SER ALVO DE CPI

Sérgio Moro, o mito criado pela Globo, vendido como o paladino da luta contra a corrupção no país poderá ser investigado por CPI do Congresso. Quem pede a abertura da CPI é o ex-presidente da OAB/RJ, deputado Waldih Damous (PT/RJ). Carlos Zucolotto Jr., padrinho de casamento e compadre de Moro, foi acusado por Rodrigo Tacha Duran, ex-advogado da Odebrecht, de vender favores como redução de penas e multas em troca de propina no encaminhamento de sua delação. A denúncia é grave. Moro se apressou em defender o compadre que até o ano passado era sócio de sua esposa Rosângela num escritório de advocacia. Damous, em nota, afirmou que a denúncia de Duran, pela sua gravidade, põe em suspeita toda operação Lava Jato.

“A LEI É PARA TODOS”

O filme já teve uma sessão especial, em Curitiba, é claro, e o lançamento em circuito nacional está previsto para este início de setembro. O título já é uma fraude: todo mundo sabe que no Brasil existe uma justiça para os ricos e outra, muito diferente, para os pobres. Depois, ela não atingiu o presidente da república e seus ministros, quase todos eles denunciados e indiciados por desvios e graves ilicitudes. Entra ano e sai ano e nenhum dos caciques do PSDB é condenado, estão todos aí lépidos e faceiros. E há, ainda, uma bandidagem da pesada sob a proteção do “padrinho” Gilmar.

Havia um mistério sobre a origem dos recursos que viabilizaram a produção do filme. Recentemente se soube que o financiador foi empresário Sérgio Amoroso, dono de madeireiras no Pará. Ele foi investigado e indiciado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal daquele estado pela prática de crimes ambientais e fiscais. Ao que tudo indica, Amoroso financiou o filme para obter proteção.

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