Um correspondente em Israel do jornal Brasil de Fato publicou no Blog dos desenvolvimentistas no início desta semana matéria sobre a questão da partilha da água na Palestina. Baby Siqueira Abrão morou oito anos na região, o que lhe confere autoridade para abordar o tema.
Ele inicia o seu artigo criticando a hásbara, uma propaganda sionista que segundo ele tem como objetivo “engrandecer Israel e ocultar ou justificar os crimes cometidos por suas autoridades com uso de intenso marketing e relações públicas”. Ele pretendeu revelar a verdade oculta num vídeo que exalta a tecnologia usada desenvolvida para dessalinizar a água do mar para irrigar as plantações que florescem numa região árida e pedregosa. “A opinião pública brasileira deve saber a verdade sobre a questão da água em Israel”, afirma Abrão. “Os palestinos, muito antes do movimento sionista começar a ocupar e se expandir na região, tinham uma agricultura de subsistência e de exportação (óleo de oliva e laranjas) que utilizava métodos tradicionais, sem o uso de tecnologias modernas através de conhecimentos transmitidos de pai para filho aperfeiçoados ao longo do tempo. A maciça colonização sionista que se intensificou a partir do final do século XIX paulatinamente foi ocupando as terras mais férteis e as nascentes de água”. Somente em 1948 mais de 700 mil palestinos foram massacrados e expulsos de suas melhores terras. No ano de 1967, com a Guerra dos Seis Dias Israel “completou o trabalho”: apossou-se de todas as nascentes da Palestina. Hoje, afirma Abrão, 85% da água da região é controlada e consumida por Israel. Aos palestinos restaram apenas 15%.
Ele ressalta um absurdo e revoltante contraste: enquanto as colônias judaicas se refrescam no verão em piscinas cheias, lavam seus carros, regam os jardins de suas casas sem nenhuma restrição, os palestinos só podem armazená-la num sistema que os supre dia sim, dia não, nas madrugadas, por períodos de apenas 2 a 4 horas. Assim, falta água para cozinhar, lavar louça e tomar banho, quando a água acaba, só resta aguardar por 24, 30 ou mais horas até que ela volte. A água controlada e fornecida, além de insuficiente e escassa, é cara. Abrão relembra que os palestinos construíam cisternas para armazenar água na época das chuvas. Israel destruiu todas sob alegação que não havia sido autorizada a sua construção.
O massacre e a opressão israelense que vitima os palestinos há décadas não é novidade para qualquer pessoa medianamente informada que busque informações em fontes mais confiáveis do que as da grande mídia nacional e internacional. O que choca é o seu descompromisso com a verdade que “fabrica” falsas versões francamente pró-Israel. Este ano, em abril e outubro, abordei o tema em dois artigos veiculados aqui no Sul 21. Temos hoje na Palestina 1 milhão e oitocentos mil pessoas confinadas em um quinto da área que anteriormente ocupavam, vivendo na maior pobreza, sem água, diariamente vitimadas por cotidianas e criminosas ações militares. Tudo acontece com o apoio americano e sob o olhar complacente da ONU. O que me fez voltar ao tema foi o depoimento de Baby Abrão. Um relato vivo, dramático, de quem viveu o drama na própria pele: “…ali você se sente participante de um filme de guerra, porque é esse mesmo o cenário: muros de oito metros ou mais de altura, cercas eletrificadas que se parecem com as fotos dos campos de concentração nazistas, guardas por toda parte – nas ruas, cinemas, ônibus -, postos militares de controle, torres gigantescas onde soldados fortemente armados montam guarda dia e noite, câmeras de alta definição noturna em todos os lugares, submetendo a população palestina a um controle infame. Em torno de cada cidade ou vila palestina áreas de “amortecimento” de 500 metros de largura vigiadas por soldados. Incursões militares em território palestino em plena madrugada acordando moradores e aterrorizando crianças, prendendo adolescentes sob um pretexto qualquer”.
Esta realidade o vídeo da hásbara não mostra, é claro, conclui Abrão. Israel se orgulha de sua avançada tecnologia, especialmente da sua sofisticada indústria bélica usada contra um povo desarmado que perdeu o direito a seu país, sua cultura, sua vida, sua história.