Muita gente que se diz progressista ou até de esquerda, repete à exaustão que Lula não deseja a cassação de Bolsonaro, seu o adversário ideal, pois contra ele a sua vitória estaria assegurada. Acham, também, que os ataques que vitimaram o PT provocaram danos de tal monta que uma possível candidatura Lula só se tornará possível num acordo firmado com a elite do poder. Lula se converteria, assim, numa versão republicana da rainha da Inglaterra: “reinaria sem governar”.
Os defensores desta tese são aqueles que não suportam mais este desastre que é o desgoverno Bolsonaro, mas que também não aceitam e nem acreditam no PT e em Lula. São os adeptos da terceira via.
O rotundo fracasso das manifestações organizadas pelo MBL no dia 12 passado tornou evidente que o vazio do fim deste governo psicopata aumenta, e que não foi nem será facilmente ocupado. Ciro, Dória e muito menos Leite não tem capital político para pavimentar a terceira via. Este é dilema da nossa apátrida e entreguista elite: se livrar de Bolsonaro e achar e colocar no poder alguém que assegure a continuidade de suas políticas nefastas.
Ciro, a sua história recente mostrou, não tem e nem consolidou uma liderança nacional. Seus resultados eleitorais são pífios, sua votação em 2018 ficou aquém dos dois dígitos. Ele anda em zigue-zague, é alérgico ao insucesso, reagiu mal, fugiu da disputa do segundo turno e, com Bolsonaro eleito passou a atacar o PT. Revelou-se um político menor: o ressentimento e sua desmedida ambição sepultaram seu futuro político.
Dória é uma liderança não consolidada num PSDB em declínio, dividido, ainda sob o controle de um FHC caquético e de um Aécio desacreditado. Se o judiciário tivesse um mínimo de autorrespeito, ele deveria estar atrás das grades. A tentativa de lançar Leite é prova de seu desprestígio.
Este é o cenário que abre espaço para a volta de Lula. Apesar do impiedoso ataque midiático, da massacrante farsa da lava jato, sua liderança é sólida, como demonstra recente pesquisa da Datafolha. É verdade que deve ser relativizado o resultado de pesquisa sobre intenções de voto de uma eleição a ser realizada no final do ano que vem.
Um PT sob a liderança de um Lula experiente, cauteloso, mas afirmativo, deverá concentrar toda sua energia e força política para aglutinar as forças progressistas na defesa de um programa de recuperação do orgulho nacional.
José Genuíno, com sua experiência de político calejado sintetiza o que deve ser feito: “…movimentos por cima e por baixo,” ou seja, “…com diplomacia e tato nas negociações e com a sólida sustentação da mobilização dos trabalhadores e dos movimentos sociais.”