João Amôedo, fundador e presidente do Partido Novo, candidato à presidência da república em 2018, há alguns dias atrás concedeu uma entrevista em que repetiu a velha e atrasada ladainha da elite econômica brasileira, a surradíssima exaltação da eficiência privada. Critica o que chama de estado ineficiente, caro, que cobra impostos elevados sem dar retorno, clama pelo estado mínimo.
Na defesa dos seus interesses de classe, “esquece” que, ao contrário do que afirma, o setor público tem fundamental importância na redistribuição de renda, especialmente num país de enormes desigualdades como o Brasil. Combate à fome, maciça prestação de serviços nas áreas da educação, saúde e assistência social são tarefas fundamentais do poder público para que o país possa romper o círculo vicioso da pobreza. Cabe ao estado, também, a realização dos investimentos em infraestrutura, fundamentais para que o Brasil possa romper a barreira do subdesenvolvimento.
Vivemos num país que é um paraíso para os milionários e bilionários. Uma carga tributária regressiva onera os mais pobres, os ricos pagam muito pouco imposto, vivem num paraíso fiscal, sequer são taxados centenas de bilhões de reais que recebem de dividendos. Um absurdo.
O IBGE divulgou em 2018 um dado incontestável: os 1% mais ricos naquele ano tiveram um aumento de 8,4% na sua renda, já os 5% mais pobres perderam 3,2% do seu já minguado poder aquisitivo. Os 10% da população mais pobre do Rio percebiam um dólar per capita por dia, o que significa extrema pobreza.
Ano passado, no auge da pandemia os bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em 177 bilhões de reais, os dados são da ONG Oxfam. Os 1% mais ricos do país abocanham 50% do PIB brasileiro.
Os governos Temer e Bolsonaro aumentaram as desigualdades: congelaram o salário mínimo, reduziram os direitos trabalhistas, aumentaram os descontos previdenciários, destruíram os planos de carreira dos servidores civis. Os militares e os cargos do alto escalão, chamados de estado, ficaram de fora, foram poupados, é claro.
Por outro lado, os ganhos financeiros aumentaram: taxas de juros dos empréstimos bancários, dos cartões de crédito permanecem nas nuvens, juros reais altíssimos, criminosos.
Neste ano de 2021 a velocidade da roleta da ciranda financeira disparou. A taxa SELIC que em janeiro estava fixada em 2,0%, neste mês de agosto pulou para 5,25%.
Há no mercado financeiro uma quase certeza que até dezembro haverá uma nova alta e que a SELIC deve fechar o ano em 6% ou 6,25%. O capital financeiro especulativo do Brasil bate palmas. Coloca na ciranda financeira – a rolagem da dívida pública – os alentados ganhos que aufere através dos juros abusivos que cobram da população e os gordos lucros que auferem pagando salários cada mais aviltados.
E um fato põe por terra o falso e inconsistente discurso de João Amoêdo. A sua declaração de bens de 2018 registrou uma fortuna de 425 milhões de reais, (hoje, certamente, decorridos três anos deve ter superado em muito os 500 milhões), mais da metade dela em títulos do Tesouro Nacional. A farsa do discurso de Amoêdo fica exposta com clareza cristalina: ele não quer gastos públicos com prestação de serviços à população mais pobre ou em investimentos produtivos. Os recursos públicos devem ser destinados ao aumento de sua já gorda fortuna, que aumenta sem que ele sequer precise trabalhar. Este é o liberalismo à brasileira.