Pensamento crítico sobre Porto Alegre, o Brasil e o Mundo.

SEBASTIÃO MELO

Melo e Marchezan Júnior são dois neoliberais, privatistas convictos, detestam o serviço e o servidor público, acreditam no estado mínimo, “enxuto”, com estrutura mínima, mero repassador de recursos aos operadores privados que deverão prestar os serviços e realizar obras e demais investimentos “públicos”.
A diferença é que Marchezan se elegeu e governou fiel ao seu discurso neoliberal, não pode ser acusado de desvios de rota. Tentou fazer o que prometera aos seus eleitores. Melo, ao contrário, escondeu suas reais intenções. Buscou o voto dos servidores prometendo valorizá-los, não falou em privatizações. Eleito, mostrou sua verdadeira face, manteve o congelamento dos salários da Prefeitura, atacou os direitos dos servidores, anunciou a privatização do DMAE e da Carris. Aproximou-se do bolsonarismo, o que tornou evidente que é um quadro político alinhado ao que de pior existe no seu lamentável MDB, um partido fisiológico, boia à deriva, insaciável, em busca de cargos e de poder.
Economista do quadro da Prefeitura de Porto Alegre, por mais de quarenta anos acompanho de perto a política e as gestões da capital e do governo do Estado. E foi lá no remoto ano de 2003 que tive contato com Melo, ano em que Lula assumiu a presidência e o PT tinha na Prefeitura João Verle, o vice que assumira no lugar de Tarso Genro.
Depois de quatro tentativas frustradas, no ano de 2000 finalmente Melo se elegeu vereador. Ele cultivava boas e cordiais relações com a bancada do PT na Câmara, onde era bem acolhido. Afável, sorriso fácil, fala mansa, seu discurso tentava “vender” uma imagem de progressista, de político de centro esquerda. Confesso que desde os primeiros contatos não acreditei, antevi nele um oportunista típico do velho e fisiológico MDB, um possível futuro alpinista. Infelizmente, eu estava certo.
Já antes de assumir Melo começou a mostrar a que veio. Primeiro escolheu como figura central e coordenador da equipe de transição uma velha raposa do partido: Cezar Schirmer. Aquele mesmo, o ex-prefeito de Santa Maria, responsável, pela sua incompetência e má gestão, pela maior tragédia da história do estado, o incêndio da boate Kiss. Centenas de mortos e feridos. Investigações lentas se arrastaram por anos e anos, e no final, concluídos os inquéritos, ninguém foi punido. Um escândalo que comprometeu seriamente a imagem do judiciário gaúcho. Cezar Schirmer saiu de “lombo liso”, um absurdo. Num episódio semelhante, de menores proporções, ocorrido em Buenos Aires o prefeito da capital argentina foi responsabilizado, perdeu o mandato e foi preso. O pior aconteceu em seguida: Cezar Schirmer assumiu o cargo de secretário de segurança de Sartori. Um deboche, em vez de se retirar da cena política, constrangido, Schirmer teve a cara de pau de voltar. Foi premiado pela sua incompetência e omissões.
O secretariado de Melo não poderia ser pior, ressuscitou velhas e controvertidas figuras: Luiz Fernando Zachia, que no passado recente fora preso e indiciado por ilicitudes na SMAM; Cássio Trogildo, condenado pela justiça eleitoral pelo uso de cargo público em campanha eleitoral; Luiz Fantinel, também indiciado por supostas irregularidades no contrato milionário na Secretaria da Fazenda, o do SIAT. Bibo Nunes esta ridícula e caricata figura que emergiu nesta terrível onda bolsonarista chegou ao cúmulo de cobrar publicamente a nomeação de sua filha para um cargo na equipe de Melo. Exigia a contrapartida pelo seu apoio e do seu partido, o PSL, na campanha eleitoral de Melo. O velho e explícito “toma lá, dá cá”. Constrangedor.
Melo imitou Marchezan Júnior no pior: repetiu a “choradeira” de ter encontrado um Prefeitura quebrada. Alega que precisa privatizar a Carris, hoje uma empresa deficitária, finge ignorar, não saber que déficits foram originados pela má gestão e desvios dos governos que apoiou e integrou, do malfadado ciclo Fogaça-Fortunati (2005/2016).
Além das privatizações anunciadas e pretendidas, Melo avança, sem nenhum limite, pudor ou constrangimento na entrega do patrimônio público ao setor privado. Primeiro, negocia áreas públicas, cedidas a empresas para gerar lucros. O vereador Jonas Reis (PT), postou recentemente um vídeo de um grande estacionamento privado, na área do Parque Harmonia, diária de 20 reais, área cercada, com cancela e tudo. Depois, nomeou um ex-vereador, conhecido lobista do Sinduscon para tratar das questões urbanísticas, como assessor especial do seu gabinete para temas do Plano Diretor. O ex-vereador, um quadro de larga experiência, oito ou nove mandatos na Câmara, ex-secretário municipal é conhecido por ter sido, no movimento estudantil, “líder da ala jovem da UDN”. Uma arquiteta amiga minha, que há mais de trinta anos acompanha o planejamento urbano da cidade me ligou, informando o fato, escandalizada: “…é a primeira vez que o Sinduscon passa a ter um cargo na Prefeitura. Melo botou a raposa para cuidar do galinheiro”.

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