Mês após mês, semana após semana o trânsito da cidade piora. É verdade que este é um problema comum a todas as grandes cidades brasileiras. Aqui em Porto Alegre a situação é um pouco mais grave: a má gestão, a escassez e o atraso dos investimentos públicos estão nos levando a uma situação crítica, próxima do caos, sem que exista qualquer indício ou perspectiva de melhora.
O prefeito Júnior anunciou recentemente investimentos e ações a serem implementadas através de Parcerias Público-Privadas (as PPPs) nas áreas da iluminação pública, privatização da administração do Mercado Central, saneamento e administração do complexo da Orla do Guaíba Para a área de transporte e circulação, nada.
Somos uma cidade que não tem metrô – o Trensurb é um trem metropolitano. O “Bus Rapid Transit” (o BRT), uma razoável alternativa, andou anos e anos a passos de tartaruga e agora o governo Júnior anuncia que não há recursos para retomar as obras. Nosso sistema ônibus a cada ano que passa transporta menos passageiros, o IPK diminui e, consequentemente, a tarifa sobe. A contrapartida é um serviço de má qualidade. Os desvios e a má gestão da Carris no ciclo dos governos Fogaça-Fortunati (2005/2016) resultaram num prejuízo acumulado da empresa que no triênio 2013/2015 totalizou 150 milhões de reais (preços atualizados). Em pleno final do mês de julho o balanço de 2016 ainda não consta no Portal da Transparência, não foi publicado como determina a lei. Muito estranho.
As obras viárias de Porto Alegre são um “caso de polícia”. Uma obra da importância da avenida Tronco, por exemplo, está paralisada há quase um ano.
Nosso sistema de sinaleiras é arcaico: não resiste a qualquer chuva ou vento, os semáforos simplesmente apagam, “saem do ar”. E o pior: os agentes de trânsito da EPTC não aparecem ou chegam tardiamente. O problema de sinaleiras mal localizadas é agravado por dezenas de galhos de árvores que impedem sua visualização. Não há poda. Há, ainda outro problema grave no sistema semafórico: a falta de sincronia. Uma primeira sinaleira abre e a segunda, próxima, fecha ou permanece fechada. O motorista fica num arranca e para cansativo. Onda verde no sistema, nem pensar. Um dos avanços recentes que amenizou a falta de locais de estacionamento em Porto Alegre foi a criação da área azul. O rodízio democratiza o uso da via pública para estacionamento. Infelizmente, pela falta de fiscalização – sumiram os agentes de controle dos tickets –, o rodízio não está mais ocorrendo.
Nos últimos dez anos a frota de veículos automotores cresceu mais de 50%; no mesmo período a população cresceu apenas 3,6%. O número de motos triplicou: eram 100 mil em 2005, hoje são mais de 300 mil. Cada dia que passa temos 150 veículos a mais circulando na cidade.
Não há nenhuma perspectiva que o transporte público da cidade vá melhorar. O metrô não tem sequer o projeto de engenharia concluído, O projeto BRT está parado e, segundo declarações do prefeito Júnior, até poderá ser abandonado. Ele anunciou, também, que não há recursos para a continuidade das obras viárias. Uma providência importante, que dificilmente será implementada, seria restringir o uso do automóvel: dias de placas par e dias de placas ímpar, além da proibição de acesso do automóvel às áreas mais congestionadas do grande “funil” que á a zona Centro. Duvido que o governo Junior tenha coragem para bancar estas medidas.
Não há qualquer dúvida: nos próximos anos o trânsito da cidade vai piorar. E porto-alegrense, já de há muito tempo um sofredor impaciente, deverá se preparar para um longo e penoso exercício de paciência.