“Todo este encanto acaba
Se alguém enfrentar o touro
…a encantação se desfaz
Se o povo matar o touro
O povo se desperta e levanta
Como seu próprio senhor”
“O rei encantado – Raul Ellwanger”
Porto Alegre viveu na última terça feira um momento de grande emoção. Desde 2005, há mais de uma década, convivemos com o mal-estar dos velhos sonhos e esperanças frustradas.
A gente sabia que a massacrante campanha contra o PT e Lula – acusados de favorecimentos e desvios – tinha como causa o que de bom fizemos. A reação veio através de uma campanha difamatória tornada possível pelo conluio grande mídia- judiciário-polícia federal. Nossa oligarquia não suportava conviver com o aumento do poder de compra dos salários, com os programas sociais que reduziram a fome e a miséria dos muito pobres e melhoraram o padrão de vida de nossas classes médias baixas. Tentaram extinguir o PT do mapa político como se combate uma praga. Nossos equívocos e omissões foram meros pretextos.
Sabíamos, também, que muitos companheiros foram seduzidos pelas facilidades do poder e do dinheiro, ou, também, traídos pelo inflar do ego. Sucumbiram ao elogio fácil de figuras menores que orbitam em torno de qualquer governo. Só isso, por exemplo, pode explicar o absurdo equívoco da indicação de um Dias Toffoli para o cargo de ministro do Supremo (STF).
Ficamos envergonhados, nos recolhemos, nossas bandeiras sumiram. A direita brasileira foi avançando, ganhando terreno até conseguir desfechar o golpe.
Derrotados nas urnas em 2014, deram o troco em 2016, depondo uma presidenta legitimamente eleita.
Desmoralizaram o país ao inventar um motivo ridículo – as pedaladas –, para entregar o poder a Temer & Cia, um bando de corruptos.
O velho e surrado pretexto de extirpar a corrupção foi a justificativa para os atropelos e desrespeito a direitos perpetrados pela ação penal 470, o chamado “mensalão do PT” e pela Lava Jato de Moro. Desfechado o golpe, ruiu, caiu por terra. Se o objetivo era extirpar a corrupção, como explicar que tenha gerado mais corrupção?
Historicamente temos uma Câmara Federal e um Senado com maioria ampla conservadora, corrupta. Um poder judiciário argentário, conservador, ineficiente e corporativo. Desde 2005 teve importante papel na preparação e desfecho do golpe. Em 2016 carimbou a farsa, tentou dar-lhe ares de legalidade. Pagou por isso um alto preço: desmoralizou-se como instituição. Ficou clara sua parcialidade e partidarismo: preservou Temer e sua quadrilha e as lideranças do PSDB. Condenaram Lula sem provas e mantém livres corruptos notórios como Aécio e Serra. Seus processos têm duas velocidades: devagar, quase parando para os amigos, para os inimigos andam a jato. As denúncias das irregularidades do governo Alckmin, por exemplo, tramitam a passos de cágado. Ministros do Supremo com frequência libertam corruptos condenados, notórios fichas-sujas.
Na quarta à noite já sabíamos o resultado deste julgamento com cartas marcadas: o previsto 3 a 0 pela condenação, com aumento da pena. Neste final de janeiro a direita brasileira conseguiu concluir a última etapa do golpe. O MBL e os coxinhas exultam, comemoram, aqui em Porto Alegre lá no Parcão, é claro. Os índices da bolsa de valores de São Paulo disparam. Esta, porém, pode ser uma vitória de Pirro.
Temos no país o governo com a maior rejeição popular da nossa história. O salário mínimo encolhe, o desemprego aumenta, a reforma trabalhista retira direitos. A população sente na carne o retrocesso, vem aí a reforma previdenciária. As aves de rapina – Temer, Parente et caterva – entregam o pré-sal, anunciam a privatização da Eletrobras e desmontam a Petrobras preparando sua futura privatização. Na política externa abandonamos uma posição independente, de liderança latino-americana para nos atrelarmos de forma subalterna aos interesses da geopolítica norte-americana.
Neste clima de insatisfação popular que o país vive, cresce a liderança de Lula. O extraordinário comício de ontem – o maior que Porto Alegre já viu – renova esperanças. Havia indignação, mas, também alegria e confiança, indicando que é a hora de aglutinar forças, de aumentar a mobilização, de prosseguir e intensificar a luta